17 de dezembro de 2007

Exorcista VII - Gestores de vidas alheias

"O que é que estás a fazer?" Esta é uma das perguntas mais estúpidas que um chefe nos pode colocar. Quem é que nos atribui tarefas, metas, objectivos, deadlines e o diabo a sete? O chefe. Então ele deve saber, ao pormenor, aquilo que estamos a fazer, não é verdade? É... mas apenas se não estivermos a falar de chefes "tugas".
O chefe "tuga" gosta de mandar os seus subordinados fazer isto e aquilo pelo simples gozo de vomitar ordens. Fala para se ouvir, mas não retém a mínima informação no seu cérebro de 64 kb. À primeira oportunidade pergunta, de dedo em riste, "Tu... como é que te chamas? O que é que estás a fazer? Em quanto tempo é que consegues fazer isso?" As respostas variam, consoante a influência da lua na maré. "Joaquim... Manutenção... Acabo hoje, ao final do dia" ou "Filomena... a ler código... mais uma hora ou duas" são as respostas que ocupam o primeiro lugar, ex-equo, no top das mais votadas pela comunidade local de trabalhadores frustrados.
O chefe só levanta cabelo se alguém se lembrar de responder, com toda a honestidade e algum espírito revolucionário, "Agora não estou a fazer nada". Aí, o chefe "tuga" muda de cor. Põe as mãos na cintura e grita, no seu melhor português, "EU JÁ NÃO VOS DISSE PARA ME DIZEREM QUANDO NÃO TIVEREM NADA PARA FAZER?" Ninguém responde... simplesmente para não ser mal-educado. Raios partam as boas maneiras que a minha mãe me ensinou, porque é precisamente em alturas como esta que me apetece levantar da secretária e dizer: "Oiça lá o meu anormal, mas você não é pago para gerir o trabalho? Não é você que diz quem deve fazer o quê, quando e como? Não é você que atribui as tarefas? Não é a si que entregamos o trabalho quando está pronto? Então o que é que você quer? Faça o seu trabalho e tente não ser tão estúpido quanto aparenta!"
Em rigor da verdade, o que faz o chefe "tuga" todo o dia? É uma pessoa muito atarefada que nem se levanta da cadeira para beber um café porque está ocupado a fazer extensos relatórios, cheios de adjectivos e palavras caras, acerca dos timings e funções alheias ... trabalhinho para durar dias inteiros, intervalados com prolongadas reuniões de update sobre os projectos que estão em fase de pré-produção há três anos, das quais resultam sempre alterações de estrutura, grafismo e conteúdo!

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito bom e inspirado, como sempre. Aliás já sinto os tais efeitos secundários que mencionas no aviso e mais um ainda: uma tremenda vontade de entregar uma tal de cartinha de rescisão, tens aí uma à mão?

Menina da Aldeia disse...

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