9 de novembro de 2007

Tirem a cabeça da areia!


Foi há precisamente 48 que a ONU achou por bem aprovar por unanimidade a Declaração Universal dos Direitos da Criança.

Princípio I - À igualdade, sem distinção de raça religião ou nacionalidade.
Princípio II - Direito a especial protecção para o seu desenvolvimento físico, mental e social.
Princípio III - Direito a um nome e a uma nacionalidade.
Princípio IV - Direito à alimentação, moradia e assistência médica adequadas para a criança e a mãe.
Princípio V - Direito à educação e a cuidados especiais para a criança física ou mentalmente deficiente.
Princípio VI - Direito ao amor e à compreensão por parte dos pais e da sociedade.
Princípio VII - Direito à educação gratuita e ao lazer infantil.
Princípio VIII - Direito a ser socorrido em primeiro lugar, em caso de catástrofes.
Princípio IX - Direito a ser protegido contra o abandono e a exploração no trabalho.
Princípio X - Direito a crescer dentro de um espírito de solidariedade, compreensão, amizade e justiça entre os povos.

Porquê? Porque as crianças não são adultos pequenos! Porque as crianças precisam de ser protegidas! Porque as crianças não devem ter de saber que a vida é difícil!
Se a vida é difícil, cabe aos adultos descomplicá-la. Cabe aos adultos fazer deste um mundo melhor, pois são eles que têm as "ferramentas" para isso.
Se os adultos escolherem o caminho mais fácil, o caminho do "a vida é mesmo assim" e incutirem isso nas suas crianças... então a próxima geração de adultos será ainda mais pessimista, cobarde e traiçoeira que a nossa!

8 comentários:

cati disse...

O caminho mais fácil para um pai é vedar a criança de tudo que é diferente. Para mim a melhor forma de proteger é ensinar a lidar com. Não é a proibir de experimentar, ou ver ou viver. É dar-lhes as ferramentas , com amor e firmeza, pra elas perceberem o que é bom e o que é mau. Caso contrário a próxima geração é a de adultos mimados que não sabem lidar com a vida e que a forma que têm pra resolver os problemas é esconderem-se deles ou passar por cima de quem que seja pra atingir os fins.

Menina da Aldeia disse...

Muito bem... até certo ponto. Ensinar a lidar com não deve passar por ensinar a ignorar ou a omitir. Isso seria ensinar a ser passivo, ensinar a "deixar andar, depois logo se vê".
Deixar ver - Muito bem! Deixar experimentar - Muito bem! Deixar viver - Muito bem! Quanto ao ensinar a ignorar ou a ocultar as injustiças, as crueldades, a miséria... - Muito mal!

cati disse...

Mas foste tu que disseste que "as crianças não devem ter de saber que a vida é difícil!" Isso é omitir e ignorar, é deixar andar, é ocultar as injustiças, as crueldades...certo? Alguém tem que consultar um dicionário de sinónimos, hihih

Menina da Aldeia disse...

Pode parecer divertido, mas é muito sério! Podíamos ficar aqui a brincar com as palavras... mas não adiantava. Quanto à Declaração de Direitos, apesar de não ser integralmente cumprida só por existir, ainda bem que existe para recordar a quem se esquece. Quanto às crianças não terem de saber que a vida é difícil, faltou-me talvez o "por experiência própria", porque é muito bom deixar viver e deixar experimentar, mas não é preciso deixar que alguém experimente a decadência ou a morte, por exemplo, para saber que é algo que não é desejável. Daí a ocultar ou ignorar vai uma grande distância...

cati disse...

Mas muitos pais proibem, por exemplo, as crianças de ver desenhos animados considerados violentos, ou as novelas pq têm muito sexo. Sempre é mais fácil do que se sentarem com elas e explicar que aquilo é fantasia e depois mostrarem-lhes outras coisas que podem ver bem mais interessantes. Muitos pais são contra a educação sexual ou a venda de preservativos nas escolas secundárias, porque dizem, é estar a incentivar as crianças a ter uma vida sexual. Isto pra mim é que é enterrar a cabecinha na areia.

Menina da Aldeia disse...

Pai: "Aquela senhora não está a ser violada por três homens encapuzados... são actores... é só um filme... ficção... e aquele senhor não levou um tiro na cabeça, é tudo a fingir. Olha, que tal irmos mas é jogar um jogo..."
Filho de 2/3 anos: Hã? Não... os meninos são maus?
Filho de 4/5 anos: Hã? Não. Os actores são maus?
Filho de 6/7 anos: Não quero... Porque é que eles são maus?
Filho de 8/9 anos: Se eu der um tiro no João também é a fingir! Ele depois fica bom...
Acreditas mesmo que as crianças têm capacidade para interiorizar que aquilo é a fingir? Achas que o pai deve deixá-los ver, só para não os limitar nesse direito, mantendo-se ali ao lado a repetir, de 2 em 2 segundo "Lembra-te que isto é só a fingir"? Achas que o que is ficar dessa experiência é que aquilo era só a fingir... Não creio! Mas se resultar, ainda bem, parece-me que tenho de pedir à minha mãe que assista a filmes de terror ao meu lado, a segurar-me a mão e a dizer de 2 em 2 segundo: "É só a fingir filha, não tenhas medo!"... É que eu já não sou nenhuma criança e deixo-me sempre levar pela aparente realidade desses filmes...

cati disse...

Pai: "Vês, o Noddy é um menino simpático e o mundo é colorido e harmonioso."
Filho: Mas os meus amigos vêm todos o DragonBall e a novela das 9.
Pai: Não podes. Não há necessidade de veres meninos bons e maus a lutar, nem senhores que raptam criancinhas, nem de saberes que há pedofilia, nem de perceberes que aqueles dois dão uns beijinhos e nem sequer são casados.
Filho: Ok. Posso ir brincar para a rua?
Pai (a ter um ataque cardíaco): já colocaste a coleira de localização GPS?

As crianças hj em dia não têm medo dos filmes de terror, aliás os filmes de terror são feitos mesmo para o público sub-16. Se calhar porque cresceram a ver o Saddam Husseim a ser enforcado, os atentados terroristas, o Marco a dar um pontapé no Big-Brother.

A minha avó também julgava que os personagens das novelas eram reais, que eram mesmo maus, que morriam de verdade. A minha mãe já cresceu com a televisão e tem uma abordagem diferente. A nossa geração acredita em tudo que vê nos telejornais, possivelmente os nossos filhos, ou na pior das hipóteses, os nossos netos, já terão aprendido a consultar formas alternativas de informação e a comparar os vários meios antes de formar uma opinião.

Mais cedo ou mais tarde, de preferência mais tarde, as crianças vão ter que lidar com muita merda, de preferência que lidem com o apoio dos pais e que estes não se demitam do seu papel de instrutores de como o mundo funciona e de como deveria funcionar...

Menina da Aldeia disse...

Muito bem "esgalhado"... mas, quanto a mim, a questão está em que há muitas maneiras de explicar a mesma coisa a uma criança e isso vai sendo feito consoante a idade. Por exemplo, o simples "de onde vêm os bebés" é explicado duma maneira a uma criança de 2 anos e de outra completamente diferente a outra de 10 anos!!! Ou, quando morre um familiar de uma criança de dois anos não se diz: Foi esfaqueado na Rua Augusta por uma prostituta quando estava a traficar droga!!! Nem sequer a uma de dez...