4 de janeiro de 2008

ExorCIsta VIII - Arrendaram-me!

Certo dia, fui chamada para um tête à tête com a patroa!
"Então, diga-me lá" - começou ela em jeito de amiguinha - "Prefere ficar na revista ou voltar à internet?"
A ideia de me estar a ser oferecida, em bandeja de prata, uma tal hipótese de optar deixou-me tolhida! "Ehhhhh... bom... se me é permitido escolher... bom... prefiro voltar à internet!" respondi, com o desembaraço de um jumento. Movia-me em terrenos pantanosos e todo o cuidado era pouco!
Houve silêncio. Segundos que pareceram uma eternidade, com dois olhos pequenos e estranhos fixos nos meus. A curiosidade não corria por aqueles nervos ópticos, o brilho dos sentimentos não estava reflectido nos seus globos oculares onde o único humor detectável é vítreo... de tão falecido.
"Pois nós achamos que rende mais se ficar na revista." Sorriu. E eu também sorri. Já a conhecia há uns pares de anos e o desfecho desta conversa apresentava-se bastante previsível. Apeteceu-me perguntar muitas coisas sobre essa entidade cega, surda e muda intitulada de "nós", mas sempre me ensinaram que não se faz pouco das insuficiências dos outros.
Dei por mim com a boca meio aberta para pedir um cafézinho e um copo com água... provavelmente aquela senhora não teria ninguém com quem desconversar e por isso me teria chamado ali. Já que me pagava sempre o ordenado a tempo e horas, o mínimo que podia fazer era ouvi-la.
Fechei a boca. Reflecti.
"Muito bem", optei por dizer, "se acham melhor assim, os senhores saberão melhor do que eu onde rendo mais!" Sorriu e espantei-me com a capacidade do ser humano para se sentir lisonjeado com a incoerência. Ficámos amigas, que é como quem diz, ela esqueceu a minha existência durante uns bons meses.

"Todos os trabalhos pagos absorvem e degradam o espírito" (Aristóteles)

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