11 de janeiro de 2008

Opiniões com pernas

“O que são as mulheres, afinal? Opiniões com pernas, certo?”

Esta frase, proferida por um colega de trabalho armado em macho latino ficou a bater-lhe nos neurónios com a força de uma bola de pinball. Tlimtlimtlim... Seis e meia da tarde. Tinha mais que fazer do que perder tempo com parvoíces.

Tentem acompanhar o raciocínio e imaginem lá este “depois do expediente”! Compra o pão, o leite, os ovos as bananas e os legumes para acompanhar com a carne estufada ao jantar! Vai buscar a criança, dá dois dedos de conversa com a mãe e dirige-se a casa, ao som das piratarias de uma tal Lilly. “Põe mais alto!”, pede a pequena. Sai do carro. Tira os sacos das compras do banco do pendura e, tentando acertar nos intervalos da chuva, coloca-os à porta de casa. Graças a Deus vivia numa vivenda, modesta mas com espaço suficiente para o carro, coisa que dá muito jeito em dias de molha tolos. Abre o chapéu e tira a criança do carro, bem sequinha como se quer! Entram em casa. Beijo carinhoso no amor de uma vida - que já se encontrava confortavelmente instalado no sofá -, as perguntas da praxe enquanto se trinca qualquer coisa, tirar o estendal da roupa da cozinha para ganhar espaço, pôr a carne a estufar e preparar os legumes. Despir a filhota com muitos mimos à mistura, dar-lhe banho e deixá-la a marinar na banheira enquanto, finalmente, se tiram os sapatos. Chinelos calçados. Um luxo!
- Amor, podes por os brócolos na panela? A água já deve estar a ferver!
Do outro lado ouvem-se resmungos. Só porque são brócolos. E porque estava mesmo na parte mais interessante daquela série fantástica que dá no Cabo!
Siga. Limpar a cachopa, esfregá-la bem com creme hidratante, vestir-lhe o pijama e secar-lhe o cabelo. Ainda há tempo para endireitar os lençóis da cama, já fartos de um dia a apanhar ar, e dar um jeito à “piscina” que se apoderou da casa de banho.
Ok... a primeira parte já está. Vamos lá jantar.
- Amor, bem que podias ter posto a mesa!
- Deixa lá isso que eu já ponho.
Tem duas opções. Senta-se e espera... ou põe a mesa e siga pra bingo. A terceira opção, aquela que envolve gritos e escandaleiras, não se chega a colocar. Não é do seu feitio.
Toalha, confere. Três pratos, confere. Talheres, confere. Copos, confere. Pratos, confere. Talheres, confere. Pão e bebidas, confere. Bases e panelas, confere. UFA! Todos para a mesa.
Senta a criança e senta-se. Começa a dar-lhe a sopa.
- Onde vais?
- Buscar os guardanapos!!!
Bolas... fatavam os guardanapos. Raios partam o Alzheimer! Toca mas é a papar.
Levantar a mesa, preparar uma taça de gelado para a cara-metade, por metade da loiça na máquina e lavar a outra metade. Começar a preparar as refeições do dia seguinte. Limpar as bancadas, lavar o fogão.
- Sim filhota, já vamos fazer um puzzle. Só mais cinco minutos.
Escolher as peças brancas do cesto da roupa suja, pô-la na máquina e enfiar para lá o detergente. Programa seleccionado. On! Varrer e lavar o chão.
Enfim, os puzzles! Brincadeira, beijocas e cama. Não sem antes ela fazer o último chichi do dia e lavar os dentes. A esta altura do campeonato, quem já e grande e vacinado amanha-se tão rapidamente como pode. Uma história depois estão na mesma cama, naquele jogo meloso de ver quem adormece primeiro. É bom. Pouco depois vai enfiá-la na cama dela e acordar o ser amado que adormecera no sofá.

Agora, imaginem que a protagonista desta história é uma mulher! O quê? Sempre pensaram tratar-se de uma mulher? Nunca puseram sequer a hipótese de tratar-se de um homem? Nem mesmo de um hiperactivo??? I rest my case.

Moral: O que são as mulheres? Opiniões com braços!

3 comentários:

Anónimo disse...

É um bom exercício de imaginação, este. Caí na ratoeira do género, porque personifiquei a descrição, mas devo dizer que conheço alguns exemplos - raros- no masculino, verdadeiros meninos da aldeia.
A diferença é que as parceiras destes meninos participam um pouco mais, talvez porque as mentalidades ainda não estão preparadas para mulheres que se sentam à sombra da bananeira num casal e pouco ou nada fazem pra que a coisa resulte.
Já o contrário parece ser um pouco mais desculpado.

Independentemente do género, esse tipo de atitude para mim demonstra uma autêntica falta de respeito, negligência e egoísmo, principalmente pq essa pessoa raramente ou nunca demonstra apreço e compreende o trabalho que dá estar no lugar do outro, do que trabalha para que tudo à volta seja perfeito e confortável.

A minha pergunta é: como é possível haver tempo pra tanta tarefa, como é possível lavar, passar, tratar, cozinhar, educar e ainda dormir, ser companheira, aparecer com bom aspecto no trabalho no dia a seguir e ter cabeça pra fazer as tarefas para as quais se é remunerado(a) com tanto brio e qualidade como a do parceiro(a) que não tem um terço das responsabilidades?
Não me parece ser humanamente possível sem sacrificar qualquer coisa, geralmente é o próprio bem-estar, sanidade mental ou aspecto, por exemplo.

Embora muitas vezes o amor que se recebe em troca de tanta dedicação compense, é de questionar que género de amor é esse que não se preocupa com o bem-estar do outro.
O que me leva pra outra questão...talvez - e não querendo desculpar ou culpar ninguém - a pessoa estanto tão habituada a ser tratada como uma criança e receber tudo como um dado adquirido ainda não se apercebeu que talvez precise de dar também um pouco.

É que não vejo aí nessa descrição a parte das opiniões, vejo apenas a parte do trabalho braçal não remunerado, escravidão, portantos...
Porque quando há opiniões, diz-se que as mulheres são histéricas, chatas,etc.
Quando há opiniões no feminino, há mudanças, que muitas vezes podem ser assustadoras.
Portanto fora as opiniões, ou fora o casamento, dependendo da perspectiva.
E viva as mulheres e homens que participam, dão o litro!

Menina da Aldeia disse...

De facto, o aspecto da protagonista da história deve andar a ser relegado para último plano ;) Quanto às opiniões, acredito que ela vá fundamentando algumas à medida que desenvolve o tal trabalho braçal, optando apenas por não as verbalizar naquele momento específico... numa espécie de "Hás-de cá vir!" Há sempre um lado humorístico a desenvolver...

Anónimo disse...

Há mulheres que são autênticas super-mulheres, autênticas forças da natureza e têm tamanha força de vontade que queremos crer que resolvem todos os problemas que aparecem e até mudam a direcção do vento se for preciso.
Aliás, as pessoas mais fortes que conheço são mulheres, umas até escrevem em blogs e tal... ;)
Mas o que quis dizer é que se exige cada vez mais das gajas, acumulam as tarefas do "antigamente" com a competitividade do mercado de trabalho e é suposto fazerem tudo isso com um ar de quem acabou de sair de uma produção fotográfica de revista de moda ou filme porno, dependendo do gosto.
Enquanto que no masculino já ninguém espera que os gajos percebam de mecânica ou saibam pregar um prego na parede ou saibam fazer uma instalação eléctrica, como era suposto saberem "intigamente"...