26 de março de 2008

Em tempo de Páscoa...


... o que os cristãos precisavam era de um bom cordeiro! Tenrinho, cheio de vida e sangue novo para pingar cruz abaixo enquanto lhe espetassem os cravos nas mãos e pés! Calhou a (má) sorte à aluna do Carolina Michaelis que agrediu a professora "por causa" de um telemóvel. Por arrasto, qual povo judeu, aquela instituição está agora sob a mira atenta da justiça romana.

Ora, há umas quantas perguntas a colocar antes de se aceitar o veredicto de culpada do qual a jovem, por mais que esperneie, não se vai safar.

1º) A aluna merece ser crucificada?
O vídeo no You Tube prova que a jovem agiu mal. Em vez de acatar a decisão da professora que, imagina-se por que razão, lhe retirou o telemóvel, resolveu reivindicar o seu direito de proprietária, levantou-se e, do alto dos seus 15 anos gritou: "Dá-me o telemóvel já!".
Esta questão, levaria a outras, que não tenho tempo de desenvolver aqui, mas deixo uns "rabinhos" para quem esteja interessado em cheirar:
* A culpa é dos pais da jovem, responsáveis pela sua educação e que permitem que ande com um telemóvel, provavelmente ofereceram-lho e até lhe pagam as chamadas?;
* A culpa é dos fabricantes de telemóveis e publicitários, que apelam de modo bastante atraente ao uso deste aparelho de comunicação por pessoas a partir do momento que não usam fralda?
* A culpa será da escola que não tem autocolantes homologados (ui, ui, o poder que têm as coisas homologadas) espalhados no interior da sala de aula, inclusive debaixo do crucifixo, a dizer que não é permitido o uso de telemóvel naquele espaço?
* A culpa é do 25 de Abril que ensinou as pessoas a não darem de mão beijada o que lhes pertence?
* A culpa é do Salazar, que não tinha nada de ter caído da cadeira porque no tempo dele é que o respeitinho era muito bonito?
* A culpa será da professora, que não sabe fazer aquele olhar ameaçador que congela os alunos ao mínimo pensamento mal intencionado?

Talvez a culpa seja da sociedade, mas crucificar uma sociedade inteira dá muito trabalho, é um convite a imigrantes no desemprego com jeito para a martelada e carpintaria e... não nos interessa. Por isso, prossigamos.

2º)A professora é inocente?

Tanto quanto Barrabás. Cometeu vários "crimes" de incapacidade de liderança e de isenção de pulso para vergar jovens adolescentes ao poder da sua palavra... mas como é menos "perigosa" para a sociedade (a tal que está a merecer umas boas vergastadas no tronco), vai ser libertada em troca da crucificação da jovem estudante.

3º) Quem é o Pôncio Pilatos desta história?
O sistema educativo, que lavou daí as suas mãos e entregou o caso à justiça de Caifás... perdão, do Tribunal de Menores!

4º) E o papel de Judas, calhou a quem?
Ao jovem colega, amiguinho, que a incentivou a agir de mau modo e, depois lhe deu o beijo fatal ao colocar o vídeo no You Tube... em troca de 30 pageviews!


Conclusão:
A jovem portou-se mal?
Portou.
O que merece?
Um puxão de orelhas.
Que castigo vai receber?
Vai ser humilhada e condenada em praça pública.
Porquê?
Porque foi apanhada no You Tube... em tempo de Páscoa.

FOTO: O Cristo Amarelo, de Paul Gauguin

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